MACONHA

Fui à ‘marcha da maconha’, ocorrida em Sampa. Gente por todos os lados. A moçada fumava diante dos olhos abertos de muitos policiais. A “erva maldita” acompanhava palavras de ordem: ei, polícia, maconha é uma delícia! Pacífica, a caminhada seguiu em marcha, deixando nas ruas a sua história e a sua narrativa; só nos falta lê-las.

        O tema, de alta complexidade, pelo caráter controverso e polêmico, está longe de soluções. De início, de uso individual e ocasional, a maconha entrou na história, transmutando-se em fenômeno de massas e de uso recreativo-habitual. Assim considerada, ela veio para ficar, sendo que, para o bem ou para o mal, nunca mais sairá do cenário brasileiro, fato. Onipotentes que somos, erramos ao declarar “guerra” às drogas e, a fortiori, à maconha. Ainda cremos em guerras; cremos na polícia mais do que em projetos de Saúde Pública ou em Educação.     

       Quando o Estado é incapaz de intervir como organizador de condições do povo, os mais espertos o fazem. Feito serpente surge a figura do traficante, como um ‘Estado paralelo’. Sim, o PCC é mais inteligente do que muita gente letrada. Será impossível acabar com a maconha, mas podemos abolir o traficante, as prisões arbitrárias e a clandestinidade. Veja, hoje, “incentivamos” a clandestinidade. Pena.   

     ─ Você fuma por quê? ─ Porque é gostoso, só isso. A maconha não é doença, é sintoma. Sintoma de uma sociedade que venera o prazer {uma pulsão para o prazer}, ao mesmo tempo que reprime o humano.  Aí, a maconha passou a ser denso objeto de prazer. Freud vaticinou: é impossível enfrentar a realidade o tempo todo sem um mecanismo de fuga. Quando não se sabe onde se quer ir, qualquer caminho serve. Aí, a Medicina se contradiz e o Direito não se entende e a Psicanálise silencia e os governantes entendem lhufas e o Estado prende. Cruz!

       Enfim: 1.Cada cidadão é responsável pelo seu corpo. 2.Com limites claros, cada um pode plantar para uso recreativo próprio. 3.O uso individual é diferente do tráfico. 4.O Estado determinará onde se pode, ou não, fumar. 5.O Estado é responsável pela produção e venda em lojas credenciadas. 6. Pode haver a produção cooperativa, em clubes de usuários. 7.Pessoas credenciadas poderão plantar e comercializar. 8. O cidadão pode portar para si. 9.Idade mínima para tudo, 21 anos.      

         Por ser o Brasil, tudo isso poderá acontecer daqui a 100 anos! Enquanto isto, preferimos a guerra; esta é conveniente para muitos…  

2 comentários sobre “MACONHA

  1. Vera Lúcia Franco Oliveira

    Li. Gostei do enfoque, da perspicaz e ladina subliminar, características da sua fala, da sua observação constante, com a acuidade que lhe é peculiar … Descobri seu Blog há pouco, mas agora sei onde encontrar uma apreciação com “conteúdo” para questões de difícil compartilhamento: em geral as pessoas estão ocupadas com idéias mais prosaicas …
    Agradeço muito, viu ?! Abraços a você e à Ana.

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