
Tudo acontece na infância e depende da educação. Aos fatos, pois:
A educação. Fui educado por 3 mulheres, uma branca e duas pretas. Branca, a mãe viúva, e, pretas, as duas que conosco moravam e lá trabalhavam. Havia um amor mútuo entre todos, acrescido a um respeito incondicional. O preto e o branco foram as cores que se cravaram em meu inconsciente e se transformaram em atos de reverência e respeito.
A formação. Com 15 anos, no colégio, junto com amigos e um adulto, saía a levar sopa quente e a fazer ‘camas de jornal’ para moradores em situação de rua. Conheci brancos e negros, na miséria das noites paulistanas de inverno.
As experiências sociais. Fiz 18 anos à beira do rio Papagaio, MT, pois ajudava em uma missão médica junto aos Nambikwaras. Aquela relação com índios foi determinante, e, digamos, o “vermelho” de suas peles misturou-se às cores sobreditas. Aos 19 anos, já subia o Morro das Belezas, SP, lá dirigia um grupo de jovens de maioria negra. Debatia com eles os direitos sociais por meio de reuniões, teatro, músicas, etc. e tal.
Os fatos acima foram os responsáveis por eu ter pintado densamente o processo de construção de meus conhecimentos científicos pelo contato com tais pessoas e marcado a ferro e a fogo todo o meu ser, com estas relações interpessoais. Assim, ‘educaram-se’ em mim as dimensões do respeito incondicional a outros humanos, sejam eles quem e quais forem, onde estiverem, de onde vieram e para onde desejam ir!
É fato que uma onda de racismo silencioso e cruel encobre a pátria. Na sua infância, o Brasil chafurdou-se em um indecente-racismo-escravocrata que, durou ‘só’ 3 séculos. Como é impossível levar à Justiça aqueles responsáveis, penso que todos devamos assumir as culpas; todo o crime deve ser reparado e as culpas devem ser pagas, aqui mesmo, na Terra. A escravidão deve ser deplorada e ela não pode nos servir como pretexto para os fatos de hoje. Em não me considerando racista, tenho a consciência dividida, pois, neste País, o racismo corre solto; só não o vê quem não quer. Assim, cresce em mim a contradição existencial da culpa e da corresponsabilidade, ao ver que, aqui, o Sol não nasce para todos…
A exclusão social e econômica , os homicídios, as prisões repletas e a perversão da falta de escolaridade são chagas sangrentas em uma sociedade vil e ilógica. É só a partir de uma visão de culpa coletiva que pode nascer uma consciência solidária e corresponsável, sem o que não haverá democracia, nem reparação destes crimes, que nunca prescreverão!
Quanto a mim, sinto-me um racista sem nunca o ter sido…
E no Brasil, o não racismo é o do faz de conta, como quase tudo aqui. Faz de conta que não existe racismo, faz de conta que somos um povo amigável, faz de conta que não há desigualdade, faz de conta que Deus é brasileiro e por aí vai desconstruindo-se antes mesmo de construir. É a antiação.
Parabéns pelo texto!!!!!
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Monica, vc tem toda a razão. O seu comentário acima é perfeito
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