
O humano é o único animal que se mata. Mata-se em um suicídio individual, coletivo ou assistido. Mata-se por amor, por política, por dinheiro, por ódio… ou sem razão aparente. É o único animal que, pasmem, saqueia e destrói a sua própria casa. As estatísticas são graves, todavia, {ainda} não se pode falar em epidemia. No nosso país, informações fiéis mostram que, hoje, a média de suicídio é de 31 casos/dia. Muitos. Pena.
Controverso, o suicídio é fenômeno de altíssima complexidade, de difícil abordagem e repleto de tabus, vergonhas e medos. Tanto é verdade que a literatura assim o descreve: fatalidade, desgraça, flagelo, pecado, perversão, patologia insana, depravação, etc. e tal.
O suicídio não é doença, é um sintoma ligado a uma enfermidade maior, a depressão. Esta, sim, uma doença que abate o todo do organismo psicológico, com possível caráter neuroquímico. Tanto é verdade que, ninguém quer se suicidar, pelo contrário, deseja tirar a dor e a aflição d’ alma e arrancar a angústia e o sofrimento do peito.
O caminho depressivo, este, que leva à morte, é longo e pouco explicável, mas passível de uma observação psicanalítica: em um ser introspectivo, a mente vive profunda tristeza, por vezes, expressa em episódios de choro sem causa; entrementes, surge a melancolia, condição de desânimo intenso de quem está, inconscientemente, quase ‘gostando’ do sofrer. Emerge, a angústia, expressa em possível dor físico-peitoral, seguida de oscilações de humor, da diminuição da energia vital e de um estado de ansiedade. Há pensamentos contraditórios de impotência e de onipotência. Brota o sofrimento contínuo e o sofrimento contínuo e o sofrimento contínuo…
Já perto do fim, nada do que acontece nesta alma nos é conhecido; nada. Mas, vê-se que o corpo começa a dar sinais: perda de apetite, redução da libido, isolamento e insônia. A mente também adoece e vai se mostrando: a neurose obsessiva é acentuada, emergem severas fantasias de morte, de enterro e, assim, o ideal do Ego sucumbe. Para Freud há importante perda do objeto existencial, sexual e afetivo. Em plena neurose, este humano, possivelmente vitimizado, egocêntrico e com vínculos afetivos empobrecidos, já não se sente pertencente à família, nem aos amigos, nem a nada; especialmente, a isto, a nada.
Lhufas lhe faz sentido… os objetivos de vida zeram… o pensamento já não é controlado pelo Superego… a autoimagem é aniquilada… a angústia cresce… tudo se embaralha… os ‘outros’ aparecem em sentimentos de inveja, ressentimentos e repressões… há a culpa… há o abandono… a solidão… a rejeição… a dor… a dor na alma… a dor…
─ Pronto… fim… tudo se acabou. Juro, eu não queria me matar.