A PARADA ESTÁ ANDANDO…

Fui à parada Gay, em Sampa. Pacífica, acolheu milhões de pessoas com folias na avenida e deixou um recado: a homossexualidade, até há bem pouco oculta em armários, tida como doença e ensopada em preconceitos deve, agora, ser entendida também como um fenômeno de massas. Aí, a novidade.

De alta complexidade, a sexualidade nos humanos é uma construção!   

Nesta, estão vivos os fenômenos biológicos, hereditários, sociais, políticos, religiosos, econômicos e… circunstanciais. Enfim, é um fenômeno individual e íntimo, ao mesmo tempo que encharcado da civilização. Cheia de contradições, a tal construção passa a ser presa fácil de crendices e de teorias simplistas. Se é difícil entender a trama que envolve o tema, o que dizer sobre a homossexualidade? Quase nada, pois pouquíssimo sabemos sobre o porquê de alguns humanos e outros animais se sentirem bem ao fazer sexo com os seus iguais. Isto é tão complicado de explicar, quanto de compreender. Há, pois, que se crer que não é porque se tem um pênis que se é “homem” e porque se tem uma vagina que se é “mulher”. O desejo homossexual, surgindo de mansinho, inexplicável e misterioso, pode ser diferente daquela herança biológica e esperada socialmente.  Fato.   

O entendimento da homossexualidade passa pela compreensão do que seja “desejo”! Este é determinante nas preferências sexuais. Tal desejo dos humanos é sagrado. Íntimo e inatacável, ele pode mobilizar a identidade de gênero de cada qual. Não somos marionetes de nossos órgãos genitais.

Para Freud o desejo não é necessidade biológica; o prazer o é. Assim, o humano antes procura o prazer e, depois, o sexo.  A Psicanálise estuda que um dos objetos do desejo é o prazer. E o sexo? É um dos caminhos. O desejo é, pois, a relação íntima do humano consigo mesmo. Lacan me completa: “Se existe um objeto de teu desejo, ele não é outro senão tu mesmo”.  

Nunca recebi no consultório alguém que se quisesse livrar ou curar-se de sua homossexualidade; não existe cura onde não há doença. Vieram a mim, isto sim, à procura da Paz que o seu desejo lhes roubara, por não se sentirem aceitos pelas leis da moralidade. Os idiotas tentam privilegiar o biológico ao desejo e, aí, dizem-se contrários ao casamento gay. Aqui, o desejo manda às favas as circunstanciais leis humanas e normas da sociedade; ele se vincula à amorosidade, sim. Hoje, vê-se que o Pai desmoronou, o patriarcado ruiu. A oração católica que inicia Em-Nome-do-Pai já não chega aos ouvidos de Deus; fez-se pó! Todavia, igual a força de uma minhoca que, cortada ao meio fica com duas partes se estrebuchando, o macho não idealiza nada no qual possa correr riscos. Macho que é macho-obsessivo, tigrão-narcísico, nada aceita que não seja a força e a truculência; daí os feminicídios e LGBTcídios.     

A Parada está andando. Vamos buscar o que nos resta de dignidade e distribuir igualmente este Brasil para todos. Sem sermos guardiões da ordem antiga e malpassada, temos de enfrentar uma certeza: a sexualidade é dinâmica e ativa, assim como são dinâmicos e ativos os desejos dos humanos.

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